sábado, 10 de janeiro de 2009

Diálogo sobre “A ilha desconhecida” - José Saramago


Caros amigos,
Após o belíssimo comentário de Denise, voltei à leitura deste conto - “A ilha desconhecida”- para aqui escrever mais uma vez sobre o autor português e, juntos, nos indagar sobre a obra. Nesses diálogos, pretendo estabelecer algumas considerações a partir de livros trazidos por vocês (acredito que ficará mais interativo).
Então...a alegoria que Saramago utiliza para as portas, sendo uma delas, a das “petições” (logo no início do conto) nos faz lembrar das várias portas que deixamos abertas ou fechadas de nossa própria existência. Às vezes quando na porta das petições alguém bate, nos fazemos de desentendidos assim como o rei e sentamos perto da entrada dos “obséquios”. (Realmente esta passagem será melhor entendia para quem leu o conto. Parece confuso, só parece). Contentamo-nos com a hierarquia burra de nosso sistema, acreditando ser eficiente:“Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha”
A insistência do homem que queria o barco é o mote de todo o conto, pois é isto que o levará a encontrar o desconhecido. “Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia", logo se atrever a buscar o desconhecido é da natureza humana. É desbravador e, claro, natural. Embora concorde com a amiga Denise que disse que o personagem é superior aos outros por ter tal iniciativa e sensibilidade.
Tal reação inesperada de coragem deste homem do barco mobilizou as outras pessoas que assistiam passivas o governo de suas próprias vidas pelo rei (típico da monarquia e da falsa democracia. Então qual política? Isto eu não sei): “O homem desceu do degrau da porta, sinal de que os outros candidatos podiam enfim avançar, nem valeria a pena explicar que a confusão foi indescritível, todos a quererem chegar ao sítio em primeiro lugar, mas com tão má sorte que a porta já estava fechada outra vez.”
As portas fechadas nunca foram vasculhadas pela população por pura comodidade da não-ação. A empregada destemida abre a “porta da decisão”, que nunca “fora aberta” e sai do palácio. Quantas portas dessa abrimos? O homem do barco, sem querer, ajuda a abrir outras portas.
Se todo homem é uma ilha, estamos sozinhos em nós mesmos e nesse lugar há muito de desconhecido. O não-conhecido é que, quase todos, procuramos: “quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és.”
Resume bem estar parte do conto que se explica por si só: “Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios”.
E, como é difícil sairmos de nós mesmos!
Essa foi minha leitura! E a sua?

3 comentários:

  1. minha leitura foi essa, Du: ô diabo de livro bão sô!!!!

    ResponderExcluir
  2. Observo no conto, também, a valorização do subjetivo em prol de uma identificação nacional: a portuguesa.

    A descrição, detalhada, dos aspectos marítimos nos leva imediatamente a Camões e o seu épico poema, cuja temática destaca os grandes feitos portugueses em mares nunca antes navegados. Passados os dias de glória (ou o que se entendia e sentia por "glória"), o que restou foi a glória de um sentimento nacional de uma nação que experimentou a decadência pós Grandes Navegações, cujos resquícios do coletivo encontraram no indivíduo uma forma de se expressar.
    Daí a busca de Portugal , não em terras desconhecidas, mas em cada português, em cada "ilha desconhecida" que habita cada um de nós.

    Essa relação com o mar é percebida em muitos autores, como Fernando Pessoa, Egito Gonçalves e outros.

    ResponderExcluir