quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

"Ensaio sobre a cegueira": livro e filme


"Ensaio sobre a cegueira": livro e filme

Ganhei o livro “Ensaio sobre a cegueira" já com a imagem de uma das cenas do filme (segunda capa que, na realidade, tornou-se a primeira, para garantir a venda) e fiquei curiosa sobre o filme de Fernando Meirelles.
A leitura foi intensa devido às descrições que Saramago proporcionava a cada detalhe nos fazendo imaginar toda a cena. Gostei da idéia dos personagens não terem nome, apesar de ficar, às vezes, cansativo. No próprio livro há, talvez, uma explicação: “Os cegos não precisam de nome, eu sou esta voz que tenho, o resto não é importante”. P.275
A cada página, uma surpresa. Assim foi quando, no inicio, deu-se a cegueira. Depois na casa destinada à quarentena. O grupo de cegos para comandar. A mulher que via.
Demorei-me na leitura, mas valeu a pena refletir sobre a cegueira de todos nós, a total desorganização do ser humano, a adaptação, ao egoísmo e a lei do mais forte. Surpreende-nos o equilíbrio sugerido pelo livro (assim li) dos mais fortes e suas ações. A mulher do médico que “numa terra de cegos” tem um olho e é “rei”, quis ajudar os cegos, abdicando-se de descanso e prazer para ser o olho de quem não vê. De outro lado, os cegos experientes que se aproveitaram da cegueira paralisante das pessoas, assim como o ladrão do carro do primeiro cego. Assim é o ser humano: bom e mau. “O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las”. P.276
A moralidade também foi diluída, ou melhor, para cada situação uma nova moral. Oferecer as mulheres como moeda de troca parecia ser justo naquela situação, ter relações sexuais com vários também é perdoado. Afinal somos todos uns animais. Quanto à lei convencionada da boa convivência e decência eram lembradas ali, havia alguém para recordar que naquele momento as leis eram diferentes.
Na obra, a questão da falta de higiene foi bastante explorada pelas eternas descrições da imundice e dos excrementos humanos sendo, portanto, piores do que os animais, pois sujavam seu próprio abrigo.
“As mãos são os olhos do cego” P.302 e o tato foi a pedra crucial para detalhar a vida do cego, embora achasse que poderia haver mais relatos no livro. No filme tem uma passagem linda em que o casal (o oftalmologista e a mulher) estão juntos, ele passa a mão pelo rosto da esposa e declara que, daquela maneira, ele a via.
A produção cinematográfica obedece fielmente às passagens da obra, sendo fácil saber a cena que virá a seguir. Entre as cenas, o diretor colocava uma luz forte branca que, segundo o autor português, a cegueira era o mal-branco ou a treva branca.
Meirelles respeita a ordenação do livro e acrescenta poucos detalhes. A escolha dos atores também, ao meu ver, foi muito boa. Houve poucos provérbios sobre a relação cego-mundo (no livro há muitas passagens, não as achei para escrever para vocês, deveria ter marcado). Algumas vezes, por tamanha disparidade proposital do autor, evidente, eu estava a rir das situações dos personagens segundo os ditados populares que Saramago entrelaçava no texto.
Em nenhuma das formas (livro e filme) há a explicação sobre a origem da cegueira e a cura. Fiquei a pensar sobre a cegueira que temos sobre alguma passagem de nossa vida. Será? Esta indagações que são interessantes quando estamos lendo. Até as mais banais e, por que não, forçadas? Reflexão não é assumir apenas uma opinião.

E O FINAL, AMIGOS? O QUE ACHAM?

“A mulher do médico levantou-se e foi à janela. Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco. Chegou minha vez. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cidade ainda ali estava.” P.310

Confesso que na leitura eu havia entendido que ela também cegara. No filme, achei que não. Agora, estou na dúvida. O fato de a cidade ainda estar ali foge ao fato de ela ver ou não. Fechar com esta frase me deixou sem saber.

9 comentários:

  1. Bom, Saramago é Saramago.... O filme é espetacular vi no cinema, se não viu não perca, tem o trailler no meu blog, depois vc olha lá, está no Poesia Expressão da Alma Vida e Obra..... Preciso de alguns contos seus para postar........ Estou precisando de escritores contemporâneos....... Só tem o Marcelo por enquanto...rsrsrsr

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  2. Clica no meu seguidor que vc saberá tudo de novo que posto e eu de vc!!!! Já sou sua seguidoraaaaaa.....

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  3. No livro quanto no filme, fiquei muito impressionada como a sociedade pode ser deturpada de acordo com a situação vigente, perceba que perde-se a noção de moral, de lei... Somos animalizados e sobrevive o mais forte.

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  4. Então " Anine", tive esta mesma leitura. E quanto ao final, o que você achou?

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  5. Uma nova era, o começo de uma nova sociedade...

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  6. Mas o interessante é que não percebi nenhuma mudança no ser humano, enquando humano, essa nova era vai continuar como a nossa dividida....... Humana

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  7. Tb não compreendi o final, talvez tenha me escapado algo, ou eu seja "cega" para o que Saramag tentou passar ali. Ela fica cega por perceber que não precisam mais dela ? Seria essa a manifestação do egoísmo do "bom" que na verdade tb é "mau" ? Para ela era melhor sentir-se necessária ? o que acham ?
    Érica

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  8. Ola Dulce, adorei conhecer o seu blog.
    Quanto ao livro de saramago e o filme, eu amei os dois. O livro inteiro é uma bela metafora do que é a vida nos dias de hoje, pois somos cego, mas não fisicamente, somos cegos de consciencia, cegos da alma, que não encherga alem das futilidades do nosso tempo.
    Saramago fez uma obra prima. Mostrando que a melhor forma de "ver é ficando cego"!

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  9. independente dela estar cega ou não, ela, verdadeiramente, passou a enxergar como ninguém o mundo e as pessoas. Então ser cega ou não para ela é indiferente, pois ela viu o que ninguém jamais verá. é assim que interpretei o que saramago quis dizer.

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